quarta-feira, 17 de agosto de 2016



Uma e meia da manhã na avenida que liga a rocha afiada 
à imensa faixa de areia
há agora um veículo pesado
há um sobressalto que um pouco me ilumina
um pouco me arremessa
Há os que retornam para casa, os que buscam distração
os que festejam
os que vigiam já descansam, os que se espantam não tem paz
Há a chama azul sobre o fogão, o livro aberto
na página que revela um destino e oculta uma rota
A pequena gota que se precipita lenta, a memória de um verão
ápice suspenso
contornado por um inverno impiedoso, dias de chamado ao
vazio
A geometria de uma desocupação
A fantasia que retorna, a vida que apenas imagino espaçosa
consistente, calma. Há aqui agora um corpo combativo
um salto que se dá no escuro não por falta de coisa que ilumine
mas porque só no escuro que existe
A cidade estremece
embaixo de tudo que tenta recobrir o seu mistério
lhe fazer plana
A cidade sempre estremece
Desmorona e se refaz
como aquilo que liga a rocha afiada ao mar imenso
como o que leva o verão antigo a esse instante
como nossas mãos atadas
como isso que não ouso nomear e que me mantém desperta