sexta-feira, 20 de março de 2015

Ninguém é Ana C.

Debocho da assimetria
Profetizo passados, crio  sistemas de medida
Esvazio e preencho o mistério
Ainda não estou curada
Amém
Ainda ontem voltei à cena do crime
Pelo menos três crimes naquela mesma esquina
Um eu cometi contra você quando roçávamos joelhos
Encarávamos a tevê do bar e dividíamos uma porção engordurada
O outro você cometeu contra mim, quando roçávamos joelhos
Um silêncio tão bruto e tão alegre
O terceiro não teve vítimas nem culpados
Foi súbito, terrível, maravilhoso
Na tevê anunciavam a cotação de um dinheiro estrangeiro
uma manobra espacial, a cura de uma doença rara
Você sorria calmo
As flutuações monetárias, a solidão dos astronautas e todas curas
Não eram mais incertos que o seu sorriso
Retoquei o batom, sujei seu garfo e depois seu corpo
Sem testemunhas
O mistério suspenso, sem medida nem história
Mas ninguém sobreviveu  

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